Na semana passada, foram divulgados os dados de 2012 do EPI (English Proficiency Index), que é um relatório que busca estabelecer um ranking internacional sobre o nível de proficiência em língua inglesa da população de 54 países, com base numa amostra de mais de 2 milhões de pessoas. O EPI possui 5 classificações de proficiência que variam de “proficiência muita alta” a “proficiência muito baixa”, passando por proficiência “alta”, “moderada” e “baixa”.
É muito triste ver o Brasil ocupando apenas a 46º posição neste ranking, que é realizado pela maior empresa de educação de línguas estrangeiras do mundo, a EF Education First (para mais detalhes sobre o ranking, acesse o site da própria EF (http://www.ef.com.br/epi/) ou leia a reportagem da Folha de São Paulo de ontem (http://migre.me/bot6y)).
Por conta desta classificação tão ruim, a repórter Elaine Quinália do Metro Jornal do Rio de Janeiro entrou em contato comigo para realizar uma entrevista. Aproveito para transcrevê-la abaixo, pois problematiza a questão de alguns dos motivos que levam o Brasil a ter uma classificação tão ruim neste tipo de ranking.
Como professor, você acredita que a metodologia de ensino utilizada pelas escolas no Brasil está ultrapassada?
Infelizmente, na maioria dos casos sim, embora haja grandes e boas exceções. O ensino regular fundamental e médio possui uma metodologia muito estrutural para o ensino de línguas que acaba afastando o aluno e fazendo com que seu interesse seja reduzido. Muitos brasileiros acham inglês difícil sem nunca terem estudado de verdade, mas porque nas aulas da escola tinham dificuldade. No entanto, a dificuldade ocorria justamente em função da metodologia, mas isso nunca é levantado. Há grandes colégios regulares com metodologias mais modernas e foco no uso da língua que conseguem fazer com que seus alunos se tornem fluentes ao longo das séries do fundamental e do médio, ou seja, possível é, mas é preciso reformular as escolas e adequar os métodos. E, sobretudo, preparar os professores para essa nova realidade de ensino de línguas.
Se sim, o que falta para melhorar?
Acho que já acabei abordando essa questão na resposta acima, mas volto a focar na questão do desenvolvimento do professor e na modernização da metodologia de ensino. O aluno hoje tem contato com o mundo em sua casa a partir do seu computador ou em qualquer lugar no qual esteja com seu smartphone. Basta uma conexão para ter contatos com qualquer língua do mundo. Isso é muito recente e não houve uma preocupação pedagógica com esse fenômeno. Mas uma aula para ser interessante para o aluno precisará enfrentar essa realidade e desenvolver suas habilidades e competências para lidar com esse cenário atual.
Na sua opinião as tecnologias (mídias sociais e internet) podem ajudar no aprendizado de um idioma? De que maneira?
Muito, pois é necessário usar a língua. Quanto mais contato temos com o idioma que estamos estudando, mais memorizamos e mais fluentes ficamos. As mídias sociais proporcionam uma interação real com amigos de qualquer parte do mundo. Criar esse vínculo torna a aprendizagem emotiva, pois constroem-se elos com outras pessoas. Isso facilita a motivação e a superação dos obstáculos do processo de aprendizagem. Além disso, a Internet permite que cada aluno possa ler, por exemplo, sobre o assunto de que mais gosta na língua em que estiver estudando. Não é mais necessário ater-se apenas ao que o professor pede para ler, mas é possível personalizar essas escolhas.
E você acha que as escolas estão aproveitando essas mídias da maneira correta?
Muito pouco, embora haja escolas que já tenham incluído, por exemplo, aulas em laboratórios de informática juntamente com a aula de línguas como forma de aproximar esses recursos da realidade do aluno, mas o problema é que, na maioria das vezes, muda-se apenas o cenário e não a prática. Existe uma área de pesquisa em Linguística Aplicada que foca exatamente o processo de ensino e aprendizagem de línguas por meio de novas tecnologias com resultados muito práticos que pode ser incorporado por qualquer escola que tenha interesse de sair do comodismo e aperfeiçoar sua metodologia. Agora é importante ressaltar que não basta apenas levar o iPad e a Lousa Digital para a sala de aula e não transformar também a realidade do professor que será o responsável pelo processo, pois a qualidade desta aula dependerá das habilidades deste professor em atualizar sua prática incorporando os recursos disponíveis a ela e gerando mais oportunidades de interações autênticas.