Sempre é tempo para aprender uma nova língua

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No artigo desta edição, tentarei desconstruir um mito que existe com relação à aprendizagem de línguas e que está presente em discursos, como os do tipo: “Estou muito velho para aprender um idioma!”. Na verdade, não existe uma idade limite para se aprender uma nova língua. Embora as pesquisas indiquem que as crianças tendem a aprender um segundo idioma com mais facilidade por estarem ainda no processo de formação das áreas cognitivas do cérebro e do aparelho fonador, não existem pesquisas que indiquem a impossibilidade de se aprender uma nova língua na terceira idade, por exemplo. Muito pelo contrário, pois há várias pesquisas que focam exatamente estratégias de ensino e aprendizagem de línguas neste contexto.

Dois principais motivos levam os adultos a buscarem aprender um novo idioma: a necessidade profissional ou a realização de um hobby. Enquanto os que buscam pela primeira razão costumam ter uma forte dose de pressão durante o processo de ensino e aprendizagem, os que buscam pela segunda razão acabam se envolvendo mais e, por isso, muitas vezes costumam ter um desenvolvimento superior aos primeiros. Como sabemos na prática, o estresse limita nossa capacidade de concentração e memorização. Por isso, é importante planejar-se profissionalmente, com cerca de dois ou três anos antes de haver a necessidade real, para começar a estudar o idioma que poderá ser importante na sua carreira. Como atualmente saber inglês é quase mandatório, este planejamento recai, muitas vezes, sobre o terceiro idioma, que virá a ser o principal diferencial.

É importante frisar que, para a grande maioria das pessoas, aprender um novo idioma será sempre um desafio, independentemente da idade. Falar um outro idioma é uma atividade tão complexa que já há estudos sugerindo que falantes bilíngues com disposição genética para desenvolver a doença de Alzheimer acabam retardando o início da doença e tendo uma evolução mais branda do que os que falam apenas uma língua. Para enfrentar esse desafio, o adulto deve procurar um curso que atenda ao seu perfil, pois com certeza não será o mesmo curso oferecido a uma criança ou a um adolescente.

Nós, adultos, temos muitas vantagens ao aprender um novo idioma:

  • Possuímos um grande repertório de vida que nos possibilita fazer um leque maior de associações;
  • Já temos nossa habilidade comunicativa desenvolvida na língua materna;
  • Podemos discutir temas de nosso interesse, aumentando nossa motivação;
  • Conseguimos utilizar nossa habilidade de resolver problemas como aliada da aprendizagem;
  • Somos críticos durante o processo de aprendizagem;
  • Temos mais autonomia como aprendizes;
  • Apresentamos um repertório de estratégias de aprendizagem que podem ser aplicadas ao estudo de uma nova língua.

Portanto, deixe de lado essa história de estar velho demais para aprender um novo idioma, procure um curso que atenda às suas necessidades específicas, aproveite suas vantagens como um aprendiz adulto e divirta-se desenvolvendo uma habilidade que é tão importante em nossos dias de hoje! Fica a dica!

Estudando vocabulário: receptivo vs. produtivo

Como minha pesquisa de mestrado abordou a questão do vocabulário na produção oral dos alunos de língua inglesa e constatei que um dos motivos pelos quais os alunos acabam tendo muita dificuldade na conversação é a falta de um vocabulário produtivo suficiente para sua interação, decidi dedicar alguns posts para ajudar os leitores a conhecerem um pouquinho a respeito dos estudos sobre vocabulário para que possam entender melhor seu processo de aprendizagem.

A distinção entre vocabulário receptivo e produtivo (ou passivo e ativo) é uma das primeiras diferenciações feitas pelas pesquisas sobre ensino e avaliação de vocabulário. O uso do vocabulário receptivo envolve o reconhecimento da forma de uma palavra ao lê-la ou ouvi-la, e a recuperação de seu significado; enquanto que o uso do vocabulário produtivo pressupõe querer expressar um significado em particular por meio da escrita ou da fala, a recuperação e produção da forma escrita ou falada apropriada da palavra.

Embora útil do ponto de vista prático para diferenciarmos nossas estratégias para estudar o vocabulário, muitos pesquisadores, assim como eu, defendem que essa dicotomia não está bem definida. Melka Teichroew, um grade pesquisador da área, sugere que a distância que separa a recepção da produção poderia ser dividida em vários estágios, começando pela imitação ou reprodução sem assimilação, passando pela compreensão ou reprodução com assimilação e terminando com a produção. Esses estágios não são restritos ou exaustivos, ou seja, pode haver outros estágios intermediários entre eles. Para ele, essa imagem de numerosos estágios interrompendo a linha de produção e recepção sugere uma nova maneira de ver a distância entre produção e recepção.

Nesta mesma linha, Blachowicz e Fisher utilizam uma metáfora interessante e comparam a aprendizagem de vocabulário a um dimmer de luz. Inicialmente o aluno desconhece a palavra (escuridão) e, aos poucos, vai intensificando seus conhecimentos sobre ela, até chegar o ponto em que ele a domina completamente (claridade).

Esses dois pesquisadores nos mostram a complexidade do processo de memorização de vocabulário para a produção oral. Enquanto aluno, tendo consciência disso, é possível ver o seu processo de aprendizagem de vocabulário por uma perspectiva mais ampla, não se desmotivando imediatamente ao não conseguir usar em um diálogo uma palavra que “conheceu” na aula anterior. Muito pelo contrário, essa conscientização deveria lhe dar mais motivação para estudar regularmente o vocabulário aprendido para que possa fazer com que haja a evolução nesses estágios.

Mesmo entendendo a aquisição do vocabulário como um processo contínuo do receptivo ao produtivo, a produção continua existindo como estágio final, sendo, portanto, o mais complexo nível de conhecimento de uma palavra. Você mesmo já deve ter percebido que temos muito mais dificuldade no momento da produção do texto (seja ele oral ou escrito) do que no momento que devemos apenas compreender um texto (seja lendo-o ou ouvindo-o). Da mesma forma que isso acontece na língua materna, também percebemos sua ocorrência na língua estrangeira. É por isso que geralmente nosso vocabulário receptivo em qualquer língua é muito maior do que o nosso vocabulário produtivo, ou seja, entendemos muito mais palavras do que as que usamos para nos expressar no nosso dia a dia.

Lembre-se de que é necessário que haja bastante empenho e contato com a língua para que seu vocabulário caminhe nesse continuum do conhecimento até chegar no estágio produtivo, que será o estágio em que conseguirá usar as palavras na conversação. Além disso, a abordagem adotada pelo seu professor também pode favorecer o desenvolvimento do seu vocabulário produtivo, uma vez que ele pode optar pela utilização de estratégias que tenham como foco a produção, e não apenas a recepção, como é mais comum.

Portanto, fique atento às estratégias que tem utilizado para estudar vocabulário para ver se elas realmente são focadas na produção (falar ou escrever) ou apenas na recepção (ouvir ou ler). Isso fará a diferença no seu resultado final. Em um próximo post, abordarei a questão das estratégias de aprendizagem de vocabulário.

Brasil cai no ranking de proficiência em língua inglesa

Na semana passada, foram divulgados os dados de 2012 do EPI (English Proficiency Index), que é um relatório que busca estabelecer um ranking internacional sobre o nível de proficiência em língua inglesa da população de 54 países, com base numa amostra de mais de 2 milhões de pessoas. O EPI possui 5 classificações de proficiência que variam de “proficiência muita alta” a “proficiência muito baixa”, passando por proficiência “alta”, “moderada” e “baixa”.

É muito triste ver o Brasil ocupando apenas a 46º posição neste ranking, que é realizado pela maior empresa de educação de línguas estrangeiras do mundo, a EF Education First (para mais detalhes sobre o ranking, acesse o site da própria EF (http://www.ef.com.br/epi/) ou leia a reportagem da Folha de São Paulo de ontem (http://migre.me/bot6y)).

Por conta desta classificação tão ruim, a repórter Elaine Quinália do Metro Jornal do Rio de Janeiro entrou em contato comigo para realizar uma entrevista. Aproveito para transcrevê-la abaixo, pois problematiza a questão de alguns dos motivos que levam o Brasil a ter uma classificação tão ruim neste tipo de ranking.

Como professor, você acredita que a metodologia de ensino utilizada pelas escolas no Brasil está ultrapassada?

Infelizmente, na maioria dos casos sim, embora haja grandes e boas exceções. O ensino regular fundamental e médio possui uma metodologia muito estrutural para o ensino de línguas que acaba afastando o aluno e fazendo com que seu interesse seja reduzido. Muitos brasileiros acham inglês difícil sem nunca terem estudado de verdade, mas porque nas aulas da escola tinham dificuldade. No entanto, a dificuldade ocorria justamente em função da metodologia, mas isso nunca é levantado. Há grandes colégios regulares com metodologias mais modernas e foco no uso da língua que conseguem fazer com que seus alunos se tornem fluentes ao longo das séries do fundamental e do médio, ou seja, possível é, mas é preciso reformular as escolas e adequar os métodos. E, sobretudo, preparar os professores para essa nova realidade de ensino de línguas.

Se sim, o que falta para melhorar?

Acho que já acabei abordando essa questão na resposta acima, mas volto a focar na questão do desenvolvimento do professor e na modernização da metodologia de ensino. O aluno hoje tem contato com o mundo em sua casa a partir do seu computador ou em qualquer lugar no qual esteja com seu smartphone. Basta uma conexão para ter contatos com qualquer língua do mundo. Isso é muito recente e não houve uma preocupação pedagógica com esse fenômeno. Mas uma aula para ser interessante para o aluno precisará enfrentar essa realidade e desenvolver suas habilidades e competências para lidar com esse cenário atual.

Na sua opinião as tecnologias (mídias sociais e internet) podem ajudar no aprendizado de um idioma? De que maneira?

Muito, pois é necessário usar a língua. Quanto mais contato temos com o idioma que estamos estudando, mais memorizamos e mais fluentes ficamos. As mídias sociais proporcionam uma interação real com amigos de qualquer parte do mundo. Criar esse vínculo torna a aprendizagem emotiva, pois constroem-se elos com outras pessoas. Isso facilita a motivação e a superação dos obstáculos do processo de aprendizagem. Além disso, a Internet permite que cada aluno possa ler, por exemplo, sobre o assunto de que mais gosta na língua em que estiver estudando. Não é mais necessário ater-se apenas ao que o professor pede para ler, mas é possível personalizar essas escolhas.

E você acha que as escolas estão aproveitando essas mídias da maneira correta?

Muito pouco, embora haja escolas que já tenham incluído, por exemplo, aulas em laboratórios de informática juntamente com a aula de línguas como forma de aproximar esses recursos da realidade do aluno, mas o problema é que, na maioria das vezes, muda-se apenas o cenário e não a prática. Existe uma área de pesquisa em Linguística Aplicada que foca exatamente o processo de ensino e aprendizagem de línguas por meio de novas tecnologias com resultados muito práticos que pode ser incorporado por qualquer escola que tenha interesse de sair do comodismo e aperfeiçoar sua metodologia. Agora é importante ressaltar que não basta apenas levar o iPad e a Lousa Digital para a sala de aula e não transformar também a realidade do professor que será o responsável pelo processo, pois a qualidade desta aula dependerá das habilidades deste professor em atualizar sua prática incorporando os recursos disponíveis a ela e gerando mais oportunidades de interações autênticas.

Entendendo melhor o que é método, metodologia e abordagem

Todo aluno de línguas já deve ter ouvido falar nestes três termos bastante utilizados nas pesquisas em Linguística Aplicada: método, metodologia e abordagem. Como um dos meus objetivos com o blog é tentar aproximar o aluno leigo das discussões teóricas e das pesquisas sobre ensino e aprendizagem de línguas, para que ele possa aproveitar essas informações no aprimoramento do seu processo de aprendizagem e também para que esteja mais bem preparado ao procurar um curso de línguas, tentarei explicar brevemente esses três termos.

Sei que o leitor deve estar achando três termos confusos, mas saiba que, mesmo nos textos teóricos, os termos método, metodologia e abordagem têm se mostrado uma confusão lexicográfica. Há vários autores que os utilizam com significados diferentes, e isso faz com que a utilização de um termo pelo outro ocorra com frequência no mercado de idiomas. Os três principais autores que utilizarei para explicar os conceitos são Anthony, Richards & Rogers e Brown.

Anthony define abordagem como sendo um conjunto de pressuposições relacionadas à natureza da linguagem, da aprendizagem e do ensino; e método como sendo um plano geral para apresentação sistemática da língua baseada em uma abordagem.

Já Richards & Rodgers reformulam o conceito de método proposto por Anthony chamando-o de abordagem. O que era método passa, portanto, a ser chamado de abordagem e método passa a designar um processo superordenado que engloba a abordagem, o desenho e o procedimento. Para eles, método é um termo abrangente que se refere à especificação e inter-relação da teoria e da prática.

Brown salienta que na literatura esses termos são utilizados, na maioria dos casos, com uma conotação que se aproxima mais das definições originais propostas por Anthony, sofrendo apenas alguns acréscimos importantes. Para efeito prático, as definições de Brown são as que tenho utilizado no meu trabalho como consultor de línguas. Assim, o termo metodologia é definido como o estudo das práticas pedagógicas em geral, incluindo questões teóricas e pesquisas relacionadas a essa prática. Abordagem é o conjunto de posições e crenças teóricas sobre a natureza da linguagem e da aprendizagem de línguas, e da aplicabilidade de ambas a contextos pedagógicos. Método é um conjunto generalizado de especificações de sala de aula para atingir objetivos linguísticos determinados, englobando, principalmente, os papéis e o comportamento do professor e do aluno.

Gosto muito de ressaltar na definição de método o que destaquei em itálico acima. Embora o mercado de idiomas em geral reduza o método ao livro didático, percebemos, na prática, que em uma aula de línguas, que é um contexto de interação social, o comportamento do professor e do aluno deve ser o grande foco de um excelente método de ensino.

O cérebro e a aprendizagem de línguas

Escrevo este post com o objetivo de compartilhar uma reportagem que li hoje no site da Revista Exame e que diz que “aprender idiomas de forma intensiva faz o cérebro crescer”. A reportagem se refere a um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Lund, que foi publicada na revista NeuroImage, e pode ser lida na íntegra no site da revista online (http://abr.io/5DD2).

Com o avanço das pesquisas em neurociência, muitos pesquisadores têm buscado entender o funcionamento do cérebro para a aprendizagem de línguas e muitos avanços têm sido feitos nesta área. Hoje se sabe, por exemplo, que quando aprendemos nossa língua materna, a região do cérebro que memoriza estas informações é diferente daquela que usamos para processar as informações sobre nossa aprendizagem de uma língua estrangeira. No entanto, pessoas bilíngues, que possuem duas línguas maternas, aprendem as duas utilizando a área responsável pela língua materna.

O fato para o qual gostaria de chamar a atenção sobre o estudo  publicado na NeuroImage é a constatação de que o processo de aprendizagem de línguas é extremamente complexo e exige muitíssimo do nosso cérebro. Outros estudos realizados com pacientes que sofrem do mal de Alzheimer corroboram para provar esta complexidade. O artigo da pesquisadora Clara Moskovitz publicado no portal LiveScience (http://migre.me/b5JeS) conclui que os pacientes bilíngues desenvolvem mais tardiamente os problemas de perda de memória relacionados à doença, indicando que falar uma outra língua protege o cérebro da doença.

Trazendo a problemática para nosso contexto de ensino e aprendizagem de línguas, sabemos que muitos brasileiros se sentem bastante desmotivados ao enfrentarem as dificuldades inerentes ao processo de apender uma nova língua e uma grande maioria acaba desistindo antes de atingir o nível de proficiência desejado. Podemos utilizar os resultados destes estudos como um estímulo para estudarmos outras línguas, pois, além de ser importante profissional e culturalmente, ajudamos nosso cérebro. Mas não se engane, será um processo complexo! Esteja preparado e busque profissionais preparados para auxiliá-lo neste processo.

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