Estratégias Diretas de Aprendizagem: Estratégias de Memória

No post anterior, fiz uma breve introdução sobre as estratégias de aprendizagem de línguas estrangeiras, que podem ser divididas em estratégias diretas e indiretas. As estratégias diretas de aprendizagem podem ser divididas em 3 categorias. No post de hoje, detalharei melhor a primeira delas: as estratégias de memória.

As estratégias de memória são divididas em 4 grandes blocos:

  1. Criação de relações mentais
  2. Uso de imagens e sons
  3. Revisão
  4. Ação

Como podemos utilizar a criação de relações mentais para aprender uma língua? Uma das técnicas é a de agrupamento. Nossa memória é ajudada quando agrupamos coisas comuns que fazem sentido juntas, pois se torna mais fácil de lembrar desta maneira. Ao aprender a palavra subway, por exemplo, em vez de simplesmente traduzi-la para metrô, seria muito mais interessante agrupá-la às outras palavras que já conhece e que estão relacionadas a transportes, por exemplo (car, bus, train, etc.). Desta forma, será muito mais fácil para sua memória armazenar este novo conhecimento.

Outra técnica muito utilizada é a da associação. Muitos já devem ter percebido que quando conseguimos associar um nome a um rosto, por exemplo, quando conhecemos alguém, temos muito mais facilidade de lembrar novamente da pessoa do que quando não fazemos essa relação. As associações, geralmente, são feitas com o seu conhecimento já existente e são muito individuais. Você pode associar uma palavra ou uma frase nova a uma experiência que já teve que lhe remete ao que está aprendendo no momento. Usando o mesmo exemplo, ao aprender a palavra subway é possível associá-la com experiências que já teve com este meio de transporte. Assim, ao ouvir a palavra novamente, seu cérebro a decodificará pela lembrança da sua associação e não pela tradução da palavra. Dê asas a sua imaginação durante suas aulas e procure fazer o máximo de associações possíveis.

A contextualização também é outra técnica para criar relações mentais. É muito importante aprender as palavras dentro de um contexto, pois, como sabemos, elas podem adquirir significados diferentes dependendo do contexto em que são utilizadas. O mesmo exemplo também serve de ilustração, pois subway além de significar o meio de transporte também se refere a uma cadeia de fast food. Será o contexto que lhe dará a segurança de entender quando estão se referindo a um ou a outro. Em suas aulas, procure sempre observar o contexto e associar o conhecimento novo a ele.

Além da criação de relações mentais, usar imagens e sons para memorizar é uma estratégia muito importante. Em vez de traduzir uma palavra que acabou de aprender, por exemplo, você pode desenhar o que ela significa, por exemplo. Ao voltar a estudar aquela lição, você conseguirá associar a palavra à imagem do seu próprio desenho e lembrar o seu significado sem precisar pensar na sua língua materna. O mesmo pode ser feito com os sons, pois algumas pronúncias nos fazem lembrar do sentido das palavras e fazer essas associações sonoras ajudará a conseguir lembrar mais facilmente.

Como todos que estudam línguas sabem, não adianta se esforçar o máximo durante uma aula apenas, empregando todas as estratégias possíveis. Para memorizarmos, é preciso revisar. A revisão estruturada nos fará entrar em contato novamente com o conteúdo aprendido e reforçará seu sentido em nossa memória. É essa revisão constante que ajudará o vocabulário inicialmente passivo a se tornar ativo para uso na conversação. Quanto mais se dedicar a revisar o conteúdo aprendido, mais facilidade terá para se lembrar das palavras durante a conversação.

Por fim, podemos também empregar ação durante a aula para reforçar nossa memória. Um exemplo que acredito ser muito comum a todos é quando o professor exige que se peça, em inglês, licença para ir ao banheiro, quando for necessário. Como toda vez em que precisar realizar esta ação, terá que fazer na língua-alvo, os alunos acabam memorizando a expressão mesmo sem conhecer toda a gramática da frase. Nestes casos, em vez de se preocuparem tanto em “formar a frase gramaticalmente correta” como costumam fazer nas atividades de conversação, acabam se lembrando da frase toda sem problemas porque está diretamente associada a uma ação. Procure, então, fazer uso de respostas físicas, ou mesmo emocionais, durante suas aulas para potencializar seu processo de memorização.

Espero ter conseguido esclarecer um pouco sobre como podem usar as estratégias de memorização ao aprender idiomas. Caso tenha dúvidas ou queira explicações mais aprofundadas, fique à vontade para me escrever. No próximo post, abordarei as estratégias cognitivas.

 

Estratégias de Aprendizagem de Vocabulário: Introdução

No post anterior, tentei explicar um pouco sobre a diferença entre vocabulário ativo e passivo para que você pudesse entender um pouco sobre o processo de aprender vocabulário, que não é simplesmente automático, mas evolui à medida que se passa a ter contato com a língua e com as palavras que se está estudando.

Nada melhor, portanto, do que entender um pouco sobre as estratégias de aprendizagem e como elas podem auxiliá-lo no estudo do vocabulário, pois é inegável que as diferenças de uso de tais estratégias pelos alunos influenciam diretamente a sua aprendizagem. Da mesma forma que o professor pode auxiliar a aprendizagem, adotando estratégias de ensino adequadas aos seus objetivos, os alunos também podem otimizá-la, dependendo do uso que fazem de suas próprias estratégias.

Mas o que são “estratégias de aprendizagem”? A definição de que mais gosto é a utilizada pela linguista americana Rebecca Oxford que define estratégias de aprendizagem como “ações específicas realizadas pelo aprendiz para fazer sua aprendizagem mais fácil, mais rápida, mais agradável, mais auto-direcionada, mais efetiva e mais transferível para novas situações”.

Oxford divide as estratégias de aprendizagem em dois grandes grupos: as diretas e as indiretas. As estratégias diretas são aquelas, como o próprio nome diz, diretamente relacionadas ao processo de aprendizagem em si e são divididas em 3 categorias: estratégias de memória, estratégias cognitivas e estratégias de compensação. Já as estratégias indiretas são aquelas que auxiliam no processo de aprendizagem, mas que não estão circunscritas apenas ao processo de aprendizagem, envolvendo: estratégias metacognitivas, estratégias afetivas e estratégias sociais.

Tanto como consultor de língua inglesa, quanto como pesquisador em Linguística Aplicada, verifico que o desconhecimento das estratégias de aprendizagem por parte dos alunos faz com que eles não consigam empregar de maneira consciente e autônoma as estratégias disponíveis durante o seu estudo. Isso faz com que muitos tenham dificuldade de aprendizagem por se limitarem ao uso de uma única estratégia que, na maioria das vezes, é a tradução das palavras da língua estrangeira para o português.

Embora essa estratégia de tradução seja importante e possa ser utilizada, ela se torna um fator limitante da aprendizagem quando ela se torna a única estratégia, pois, em vez de ser empregada de maneira verdadeiramente estratégica quando traduzir a palavra seria realmente a melhor estratégia para aquele tipo de vocabulário, ela acaba sendo utilizada irrestritamente e faz com que o aluno só consiga reconhecer a língua estrangeiro pela sua própria língua. Todos que já estudaram uma língua e ficaram apenas traduzindo para conseguir aprender sabem como isso é realmente limitante, pois não ativa todos os recursos de aprendizagem que temos.

Com esta introdução, espero que tenha conseguido explicar um pouco sobre o que são essas estratégias de aprendizagem e de reforçar como podem ser importantes para a aprendizagem de línguas e, consequentemente, do vocabulário também. A seguir, passarei a detalhar cada uma das estratégias diretas e indiretas e a dar algumas dicas práticas para os estudantes utilizá-las em sala de aula! Acompanhe o próximo post!

Estudando vocabulário: receptivo vs. produtivo

Como minha pesquisa de mestrado abordou a questão do vocabulário na produção oral dos alunos de língua inglesa e constatei que um dos motivos pelos quais os alunos acabam tendo muita dificuldade na conversação é a falta de um vocabulário produtivo suficiente para sua interação, decidi dedicar alguns posts para ajudar os leitores a conhecerem um pouquinho a respeito dos estudos sobre vocabulário para que possam entender melhor seu processo de aprendizagem.

A distinção entre vocabulário receptivo e produtivo (ou passivo e ativo) é uma das primeiras diferenciações feitas pelas pesquisas sobre ensino e avaliação de vocabulário. O uso do vocabulário receptivo envolve o reconhecimento da forma de uma palavra ao lê-la ou ouvi-la, e a recuperação de seu significado; enquanto que o uso do vocabulário produtivo pressupõe querer expressar um significado em particular por meio da escrita ou da fala, a recuperação e produção da forma escrita ou falada apropriada da palavra.

Embora útil do ponto de vista prático para diferenciarmos nossas estratégias para estudar o vocabulário, muitos pesquisadores, assim como eu, defendem que essa dicotomia não está bem definida. Melka Teichroew, um grade pesquisador da área, sugere que a distância que separa a recepção da produção poderia ser dividida em vários estágios, começando pela imitação ou reprodução sem assimilação, passando pela compreensão ou reprodução com assimilação e terminando com a produção. Esses estágios não são restritos ou exaustivos, ou seja, pode haver outros estágios intermediários entre eles. Para ele, essa imagem de numerosos estágios interrompendo a linha de produção e recepção sugere uma nova maneira de ver a distância entre produção e recepção.

Nesta mesma linha, Blachowicz e Fisher utilizam uma metáfora interessante e comparam a aprendizagem de vocabulário a um dimmer de luz. Inicialmente o aluno desconhece a palavra (escuridão) e, aos poucos, vai intensificando seus conhecimentos sobre ela, até chegar o ponto em que ele a domina completamente (claridade).

Esses dois pesquisadores nos mostram a complexidade do processo de memorização de vocabulário para a produção oral. Enquanto aluno, tendo consciência disso, é possível ver o seu processo de aprendizagem de vocabulário por uma perspectiva mais ampla, não se desmotivando imediatamente ao não conseguir usar em um diálogo uma palavra que “conheceu” na aula anterior. Muito pelo contrário, essa conscientização deveria lhe dar mais motivação para estudar regularmente o vocabulário aprendido para que possa fazer com que haja a evolução nesses estágios.

Mesmo entendendo a aquisição do vocabulário como um processo contínuo do receptivo ao produtivo, a produção continua existindo como estágio final, sendo, portanto, o mais complexo nível de conhecimento de uma palavra. Você mesmo já deve ter percebido que temos muito mais dificuldade no momento da produção do texto (seja ele oral ou escrito) do que no momento que devemos apenas compreender um texto (seja lendo-o ou ouvindo-o). Da mesma forma que isso acontece na língua materna, também percebemos sua ocorrência na língua estrangeira. É por isso que geralmente nosso vocabulário receptivo em qualquer língua é muito maior do que o nosso vocabulário produtivo, ou seja, entendemos muito mais palavras do que as que usamos para nos expressar no nosso dia a dia.

Lembre-se de que é necessário que haja bastante empenho e contato com a língua para que seu vocabulário caminhe nesse continuum do conhecimento até chegar no estágio produtivo, que será o estágio em que conseguirá usar as palavras na conversação. Além disso, a abordagem adotada pelo seu professor também pode favorecer o desenvolvimento do seu vocabulário produtivo, uma vez que ele pode optar pela utilização de estratégias que tenham como foco a produção, e não apenas a recepção, como é mais comum.

Portanto, fique atento às estratégias que tem utilizado para estudar vocabulário para ver se elas realmente são focadas na produção (falar ou escrever) ou apenas na recepção (ouvir ou ler). Isso fará a diferença no seu resultado final. Em um próximo post, abordarei a questão das estratégias de aprendizagem de vocabulário.